Evangelizar os evangélicos: por que o Papa gosta de se encontrar com movimentos carismáticos.
A participação do Papa Francisco, pelo segundo ano consecutivo, na convocação da Renovação no Espírito,
do movimento carismático católico, mostra a sua atenção para os
movimentos carismáticos como um meio para fomentar a caminho ecumênico.
Não por acaso, a Renovação no Espírito delineou a convocação como
fortemente ecumênica.
A reportagem é de Andrea Gagliarducci, publicada no sítio da Catholic News Agency, 03-07-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Durante o encontro com o Papa Francisco na Praça de São Pedro, as orações foram feitas pelos cardeais Kurt Koch e Leonardo Sandri, respectivamente, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos e prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais; o arcebispo anglicano David Moxon, que representa o arcebispo de Canterbury junto à Santa Sé; e Dom Barnaba El Soryani, bispo copta-ortodoxa, como delegado de Teodoro II, patriarca de Alexandria.
Também estiveram presentes Dom Athanasisu Matti Shaba Matoka, arcebispo siro-católico emérito de Bagdá; Sua Eminência Policarpo Eugenio Aydin, vigário da diocese siro-ortodoxa dos Países Baixos; Rev. Louie Giglio, da Passion City Church de Atlanta; Jonas Jonsoon, da Igreja Luterana da Suécia; e Giovanni Traettino, presidente da Igreja Evangélica da Reconciliação da Itália.
Essa presença variada se alinha com o compromisso do Papa Francisco
com o ecumenismo. Para além do diálogo recentemente inaugurado com os
ortodoxos e com as Igrejas anglicanas, o mundo evangélico é um grande
desafio para o ecumenismo e talvez um dos mais importantes.
O diálogo com grupos evangélicos, especialmente pentecostais, tem
sido chamado de "o quarto ecumenismo" por vários autores, incluindo o
sociólogo católico Massimo Introvigne, uma autoridade internacional em seitas religiosas.
De acordo com Introvigne, o quarto ecumenismo – o
das novas seitas protestantes nascidas no início do século XX – talvez
seja o terreno mais fértil para o diálogo ecumênico.
As tentativas para esse diálogo têm limites: por exemplo, uma busca
por representantes dos pentecostais. Embora eles componham três quartos
dos protestantes em algumas partes do mundo e nada menos do que um terço
de todos os cristãos, os pentecostais são muito fragmentados. A
diversidade dentro do grupo apresenta dificuldades para o diálogo.
Talvez seja por isso que o Papa Francisco escolheu fomentar o diálogo especificamente com indivíduos e pequenos grupos.
No dia 28 de julho de 2014, o papa fez uma visita privada à igreja do pastor evangélico Giovanni Traettino, em Caserta. Os dois se conheceram em 2006 e mantiveram boas relações desde então.
Esse encontro ocorreu no fim de uma série de encontros que o Papa Francisco teve com líderes evangélicos em 2014.
O televangelista Joel Osteel, o pastor Tim Timmons e o reitor do Evangelical Westmont College, Gayle D. Beebe, visitaram o Papa Francisco no dia 4 de junho de 2014.
Depois, o Papa Francisco se reuniu no dia 24 de junho daquele ano com os televangelistas James Robins e Kenneth Copeland, com o bispo Anthony Palmer da Comunhão Evangélica das Igrejas Episcopais, com o casal John e Carol Arnott, de Toronto, e – dentre outros – com Geoff Tunnicliffe e Brian C . Stiller, respectivamente, secretário-geral e embaixador da Aliança Evangélica Mundial.
De acordo com o proeminente vaticanista italiano Sandro Magister, através desses encontros, o Papa Francisco
está colocando em ação um amplo esforço para "ganhar o favor dos
líderes mundiais daqueles movimentos 'evangélicos' e pentecostais que,
especialmente na América Latina, são os concorrentes mais temíveis da
Igreja Católica, da qual eles estão arrancando enormes massas de fiéis".
Encontrar-se com a convocação da Renovação no Espírito faz parte desse esforço. O próprio Papa Francisco reconheceu – durante a sua viagem de volta da Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro
– que ele costumava olhar para os movimentos carismáticos com suspeita e
que, mais tarde, ele mudou de ideia, e agora acredita que "esse
movimento faz muito bem para a Igreja em geral".
O presidente da Renovação no Espírito, Salvatore Martínez,
um acadêmico de música e músico que está comprometido com o movimento
desde a sua juventude, teve a ocasião de se encontrar com o Papa Francisco bem no início do pontificado, depois da missa que o papa celebrou na paróquia vaticana de Sant'Anna, no dia 17 de março de 2013, quatro dias depois da sua eleição.
Depois disso, Martínez teve uma reunião privada com o Papa Francisco
em setembro de 2013, e depois o convite para a convocação anual de 2014
foi encaminhado diretamente para o papa, que aceitou, provavelmente
considerando-a como uma parte do seu compromisso ecumênico.
Falando para a convocação no dia 1º de junho de 2014, o papa
manifestou a esperança de que ambos os grupos carismáticos evangélico e
católico, reunidos na organização International Catholic Charismatic Renewal Services (ICCRS), compartilhassem o mesmo escritório como um sinal do ecumenismo. E eles fizeram isso.
Encontrando-se com eles no dia 31 de outubro de 2014, o papa elogiou a
decisão e sublinhou que "a unidade não é uniformidade (…) não significa
fazer tudo juntos, nem pensar da mesma forma, nem perder a identidade".
O Papa Francisco foi mais longe. No último dia 23 de maio, ele enviou uma mensagem de vídeo aos participantes do Dia de Diálogo e Oração organizado pela diocese de Phoenix,
que reuniu católicos e pastores pentecostais evangélicos. Na mensagem, o
papa lhes pediu para rezarem "juntos pela graça da unidade", aquela
unidade que "está florescendo entre nós e começa pelo batismo único
todos nós recebemos".
Todos esses sinais sugerem que o Papa Francisco, de
fato, mudou de ideia e, começando com um ceticismo inicial, mais tarde,
ele encontrou nos movimentos carismáticos um caminho privilegiado para
buscar o ecumenismo.
Poderia haver outro fator de pressão no entusiasmo do papa por tais encontros – uma onda de conversões, particularmente na América Latina, onde se estima que 100 milhões de católicos se converteram ao cristianismo evangélico. Agora, parece que o Papa Francisco gostaria de evangelizar os evangélicos.
O seu ecumenismo espiritual, colocando a oração no centro e até mesmo
tornando-a em um instrumento diplomático, representa o ponto de
encontro mais lógico com o mundo protestante.
Participar de um grande evento carismático católico poderia ser a
ponte de que o papa precisa para alcançar o seu objetivo final:
transformar os evangélicos de rivais em aliados e impulsionar os
esforços ecumênicos.
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