Liturgia
Eucarística ou Rito Sacramental
Na Liturgia
Eucarística atingimos o ponto alto da celebração. Durante ela a Igreja irá
tornar presente o Sacrifício que Cristo fez para nossa Salvação. Não se trata
de outro sacrifício, mas sim de trazer à nossa realidade a Salvação que Deus
nos deu. Durante esta parte a Igreja eleva ao Pai, por Cristo, sua oferta e
Cristo dá-se como oferta por nós ao Pai, trazendo-nos graças e bênçãos para
nossas vidas.
É durante a Liturgia Eucarística que podemos
entender a Missa como uma Ceia, pois afinal de contas nela podemos enxergar
todos os elementos que compõem uma: temos a mesa – mais propriamente a mesa da
Palavra e a mesa do Pão. Temos o Pão e o Vinho, ou seja, o alimento sólido e
líquido presentes em qualquer ceia. Tudo conforme o espírito da Ceia Pascal
judaica, em que Cristo instituiu a Eucaristia.
E de fato, a Eucaristia no início da Igreja era
celebrada em uma Ceia Fraterna. Porém foram ocorrendo alguns abusos, como Paulo
os sinaliza na Primeira Carta aos Coríntios. Aos poucos foi sendo inserida a
celebração da Palavra de Deus antes da Ceia Fraterna e da Consagração. Já no
século II a Liturgia da Missa apresentava o esquema que possui hoje em dia.
Após essa lembrança de que a Missa também é uma Ceia,
podemos nos questionar sobre o sentido de uma ceia, desde o cafezinho oferecido
ao visitante até o mais requintado jantar diplomático. Uma ceia significa,
entre outros: festa, encontro, união, amor, comunhão, comemoração, homenagem,
amizade, presença, confraternização, diálogo, ou seja, vida. Aplicando esses
aspectos a Missa, entenderemos o seu significado, principalmente quando vemos
que é o próprio Deus que se dá em alimento. Vemos que a Missa também é um
convívio no Senhor.
A Liturgia
Eucarística divide-se em: Apresentação das Oferendas, Oração Eucarística e Rito
da Comunhão.
1.
Apresentação das Oferendas
Apesar de
conhecida como ofertório, esta parte da Missa é apenas uma apresentação dos dons
que serão ofertados junto com o Cristo durante a Consagração. Devido ao fato de
maioria das Missas essa parte ser cantada não podemos ver o que acontece
durante esse momento. Conhecendo esses aspectos poderemos dar mais sentido à
celebração.
Analisemos inicialmente os elementos do Ofertório:
o pão, o vinho e a água. O que significam? De fato foram os elementos
utilizados por Cristo na Última Ceia, mas eles possuem todo um significado
especial:
1) o pão e o vinho representam a vida do homem, o
que ele é, uma vez que ninguém vive sem comer nem beber;
2) representam também o que o homem faz, pois
ninguém vai à roça colher pão nem na fonte buscar vinho;
3) em Cristo o pão e o vinho adquirem um novo
significado, tornando-se o Corpo e o Sangue de Cristo. Como podemos ver, o que
o homem é, e o que o homem faz adquirem um novo sentido em Jesus Cristo.
E a água? Durante a apresentação das oferendas, o
sacerdote mergulha algumas gotas de água no vinho. E o porquê disso? Sabemos
que no tempo de Jesus os judeus bebiam vinho diluído em um pouco de água, e
certamente Cristo também devia fazê-lo, pois era verdadeiramente homem. Por
outro lado, a água quando misturada ao vinho adquire a cor e o sabor deste.
Ora, as gotas de água representam a humanidade que se transforma quando diluída
em Cristo.
Para entender melhor ainda o significado de cada símbolo na Missa
convido-o a ler o texto OS SÍMBOLOS NA MISSA neste Blog.
Os tempos
da preparação das oferendas:
a)
Preparação do altar
“Em
primeiro lugar prepara-se o Altar ou a Mesa do Senhor, que é o centro de toda Liturgia
Eucarística, colocando-se nele o corporal, o purificatório, o cálice e o missal,
a não ser que se prepare na credência”(IGMR 49).
b)
Procissão das oferendas
Neste
momento, trazem-se os dons em forma de procissão. Lembrando que o pão e o vinho
representam o que é o homem e o que ele faz, esta procissão deve revestir-se do
sentimento de doação, ao invés de ser apenas uma entrega da água e do vinho ao
sacerdote. Portanto a procissão das oferendas quer significar a nossa oferta a
Deus de tudo aquilo que temos e somos. Lembrando que o canto deve acompanhar a
procissão, como também, a apresentação das oferendas. Ele encerra quando acaba
a apresentação, portanto, não deve ficar prolongando desnecessariamente.
c)
Apresentação das oferendas a Deus
O
sacerdote apresenta a Deus as oferendas através da fórmula: Bendito sejais… e o
povo aclama: Bendito seja Deus para sempre! Este momento passa despercebido da
maioria das pessoas devido ao canto do ofertório. O ideal seria que todo o povo
participasse desse momento, sendo o canto usado apenas durante a procissão e a
coleta fosse feita sem as pessoas saírem de seus locais. O canto não é proibido,
mas deve procurar durar exatamente o tempo da apresentação das oferendas, para
que o sacerdote não fique esperando para dar prosseguimento à celebração. Como
já dito acima.
d) A Coleta
do Ofertório
Já nas
sinagogas hebraicas, após a celebração da Palavra de Deus, as pessoas
costumavam deixar alguma oferta para auxiliar as pessoas pobres. E de fato,
este momento do ofertório só tem sentido se reflete nossa atitude interior de
dispormos os nossos dons em favor do próximo. Aqui, o que importa não é a
quantidade, mas sim o nosso desejo de assim como Cristo, nos darmos pelo
próximo. Representa o nosso desejo de aos poucos, deixarmos de celebrar a Eucaristia
para nos tornarmos Eucaristia. Ser Igreja é ser partilha na vida das pessoas.
e) O Lavar
as Mãos
Após o
sacerdote apresentar as oferendas ele lava suas mãos. Antigamente, quando as
pessoas traziam os elementos da celebração de suas casas, este gesto tinha
caráter utilitário, pois após pegar os produtos do campo era necessário que
lavasse as mãos. Hoje em dia este gesto representa a atitude, por parte do Sacerdote,
de tornar-se puro para celebrar dignamente a Eucaristia.
f) O Orai
Irmãos…
Agora o
sacerdote convida toda assembleia a unir suas orações à Ação de Graças do
sacerdote.
g) Oração
sobre as Oferendas
Esta
oração coleta os motivos da Ação de Graças
e lança no que segue, ou seja, a Oração Eucarística. Sempre muito rica, deve
ser acompanhada com muita atenção e confirmada com o nosso Amém!
2. A
Oração Eucarística
É na
Oração Eucarística em que atingimos o ponto alto da celebração. Nela, através
de Cristo que se dá por nós, mergulhamos no mistério da Santíssima Trindade,
mistério da nossa salvação.
“A Oração Eucarística é o centro e ápice de toda celebração, é prece de ação de graças e santificação. O sacerdote convida o povo a elevar os corações ao Senhor na oração e na ação de graças e o associa à prece que dirige a Deus Pai por Jesus Cristo em nome de toda comunidade. O sentido desta oração é que toda a assembleia se una com Cristo na proclamação das maravilhas de Deus e na oblação do Sacrifício” (IGMR 54).
a)
Prefácio
Após o
diálogo introdutório, o Prefácio possui a função de introduzir a assembléia na
grande Ação de Graças que se dá a partir deste ponto. Existem inúmeros
prefácios, abordando sobre os mais diversos temas: a vida dos santos, Nossa
Senhora, Páscoa etc.
b) O
Santo
É a
primeira grande aclamação da assembléia a Deus Pai em Jesus Cristo. O correto é
que seja sempre cantado, levando-se em conta a maior fidelidade possível à
letra da oração original. É um dos cantos mais belos da Missa, por isso deve
ser vibrante por sua natureza. Tem que ter caráter bíblico e que expresse de
fato o Santo. É uma aclamação, uma fórmula de louvor tirada do livro do profeta
Isaías (Is 6,3). É uma síntese do hino dos Querubins. Leia em sua Bíblia os
textos: Is 6,1-3; Mt 21,9 e Ap 4,8.
O Canto do Santo significa:
é alegria da Ressurreição do
Cordeiro de Deus.
é o louvor de toda a criação ao Senhor.
é vitória do bem sobre as
crueldades do mundo.
é espera de transformação da nossa
realidade e das pessoas.
é a santidade de Deus e a Glória
que o céu e a terra proclamam diante da obra da Criação.
c) A
invocação do Espírito Santo
Através
dele Cristo realizou sua ação quando presente na história e a realiza nos
tempos atuais. A Igreja nasce do Espírito Santo, que transforma o Pão e o Vinho.
A Igreja tem sua força na Eucaristia.
d) A Consagração
Deve ser
toda acompanhada por nós. É reprovável o hábito de permanecer-se de cabeça
baixa durante esse momento. Reprovável ainda é qualquer tipo de manifestação
quando o sacerdote ergue a hóstia, pois este é um momento sublime e de profunda
adoração. Nesse momento o mistério do amor do Pai é renovado em nós. Cristo dá-se
por nós ao Pai trazendo graças para nossos corações. Daí ser esse um momento de
profundo silêncio.
e) Preces
e intercessões
Reconhecendo
a ação de Cristo pelo Espírito Santo em nós, a Igreja pede a graça de abrir-se
a ela, tornando-se uma só unidade. Pede para que o papa e seus auxiliares sejam
capazes de levar o Espírito Santo a todos (Igreja dos vivos... Militante). Pede
pelos fiéis que já se foram (Igreja dos mortos... Padecente) e pede a graça de,
a exemplo de Nossa Senhora e dos santos, os fiéis possam chegar ao Reino para
todos preparados pelo Pai (Igreja Celeste... Triunfante).
f)
Doxologia Final (Do grego Doxa = Glória)
É uma
espécie de resumo de toda a oração eucarística, em que o sacerdote tendo o
Corpo e Sangue de Cristo em suas mãos louva ao Pai e toda assembléia responde
com um grande “Amém”, que confirma tudo aquilo que ela viveu. O sacerdote a diz
sozinho. Pode ser cantada ou não pelo presidente da celebração.
3. Rito
da Comunhão
A Oração Eucarística
representa a dimensão vertical da Missa, em que nos unimos plenamente a Deus em
Cristo. Após alcançarmos a comunhão com Deus Pai, o desencadeamento natural dos
fatos é o encontro com os irmãos, uma vez que Cristo é único e é tudo em todos.
Este é o momento horizontal da Missa. Tem também esse momento o intuito de
preparar-nos ao Banquete Eucarístico.
a) O Pai Nosso
É o
desfecho natural da Oração Eucarística. Uma vez que unidos a Cristo e por ele
reconciliados com Deus, nada mais oportuno do que dizer: Pai nosso… Esta oração
deve ser rezada em grande exaltação, se for cantada, deve seguir exatamente as
palavras ditas por Cristo, quando as ensinou aos discípulos. Após o Pai Nosso
segue o seu embolismo, ou seja, a continuação do último pensamento da oração.
Segue aqui uma observação: o único local em que não dizemos “amém” ao
final do Pai Nosso é na Missa, dada a continuidade da oração expressa no
embolismo.
Lembrando
que assim como toda oração cantada na litúrgica, como vimos até agora, deve ser
executada fielmente a letra, músicas de Pai Nosso como o do Padre Marcelo Rossi
não é conveniente, ainda mais que foge da oração que o próprio Cristo nos
ensinou.
b) Oração
pela Paz
Uma vez
reconciliados em Cristo, pedimos que a paz se estenda a todas as pessoas,
presentes ou não, para que possam viver em plenitude o mistério de Cristo.
Pede-se também a Paz para a Igreja, para que, desse modo, possa continuar sua
missão. Esta oração é rezada somente pelo sacerdote.
c) O
cumprimento da Paz
É um gesto simbólico, uma saudação pascal. Por ser um gesto
simbólico não há a necessidade em sair do local para cumprimentar a todos na
Igreja. Se todos tivessem em mente o simbolismo expresso nesse momento não
seria necessária a dispersão que o caracteriza na maioria dos casos. Também não
é permitido que se cante durante esse momento, uma vez que deveria durar pouco
tempo. A Santa Sé por meio da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina
dos Sacramentos publicou por ordem do Santo Padre Francisco um novo documento. Neste
documento a Santa Sé ordena que acabem com os abusos no momento da Paz, o
popular "abraço da paz". (Ver: CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO E A DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS. CARTA
CIRCULAR: O SIGNIFICADO RITUAL DO DOM DA PAZ NA MISSA).
- Nada de sair do lugar para dar a paz, mas
dar-se-á apenas para as pessoas que estão mais próximas.
- Nada de músicas, pois isso além de não estar previsto, aumenta bastante um momento que não deve ser longo.
- Nada de o celebrante sair do presbitério para dar a paz a outras pessoas.
- Nada de músicas, pois isso além de não estar previsto, aumenta bastante um momento que não deve ser longo.
- Nada de o celebrante sair do presbitério para dar a paz a outras pessoas.
Lembrando que este gesto é facultativo e móvel,
podendo ser realizado em outros momentos da celebração. O fato é que devemos
ter muito cuidado para que este momento não sufoque, diminua ou ignore o que
vem a seguir, ou seja, a invocação do Cordeiro de Deus, que tem a preferência,
durante o rito da fração do pão. Muitas vezes quando a assembléia se acalma do
abraço da paz, o Rito do Cordeiro de Deus já passou despercebido, essa prática
consiste num erro litúrgico gravíssimo.
d) O
Cordeiro de Deus (Agnus Dei)
O
sacerdote e a assembléia se preparam em silêncio para a comunhão. Neste momento
o padre mergulha um pedaço do pão no vinho, representando a união de Cristo
presente por inteiro nas duas espécies. A tríplice invocação derivada da
palavra de João Batista, Jo 1,29; Ao 5,6; 13,8, que a assembléia canta ou reza
na Fração do Pão. A seguir todos reconhecem sua pequenez diante de Cristo e
como o Centurião exclamam: Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha
morada, mas dizei uma só palavra e serei salvo. Cristo não nos dá apenas sua
palavra, mas dá-se por amor a cada um de nós.
Cristo é
o Cordeiro de Deus que deu sua vida para trazer até nós a salvação. Cordeiro
imolado, cordeiro sinal de libertação.
É uma
parte fixa da Missa que nunca deve ser substituída ou omitida. Deve ser sempre
cantada, mas não se impede que seja rezada.
e) A Comunhão
( Fração do Pão)
Durante
esse momento a assembléia dirige-se à mesa Eucarística. O canto deve procurar
ser um canto de louvor moderado, salientando a doação de Cristo por nós. A
comunhão pode ser recebida nas mãos ou na boca, tendo o cuidado de, no primeiro
caso, a mão que recebe a hóstia não ser a mesma que a leva a boca. Aqueles que
por um motivo ou outro não comungam, por não se encontrarem devidamente
preparados (estado de graça santificante) é importante que façam desse momento
também um momento de encontro com o Cristo, no que chamamos de Comunhão
Espiritual. Após a comunhão segue-se a Ação de Graças, que pode ser feita em
forma de um canto ou pelo silêncio, que dentro da liturgia possui sua linguagem
importantíssima. O que não pode é esse momento ser esquecido ou utilizado para
conversar com quem está ao nosso lado.
Quem
distribui a Sagrada Comunhão aos fiéis?
·
O
Presidente da Celebração.
·
Padres
concelebrantes se houver.
·
O
Diácono.
·
O Acólito
Instituído.
·
Os
Ministros Extraordinários da Comunhão Eucarística.
f) Oração
após a Comunhão
Infelizmente
criou-se o mau costume em nossas assembleias de se fazer essa oração após os
avisos, como uma espécie de convite apressado para se ir embora. Esta oração
liga-se ainda a Liturgia Eucarística, e é o seu fechamento, pedindo a Deus as
graças necessárias para se viver no dia-a-dia tudo que se manifestou perante a assembleia durante a celebração. Os avisos fazem parte dos Ritos Finais.
Aqui
então termina a Liturgia Eucarística.
REFERÊNCIAS
Missa Parte por Parte. Padre Luiz Cechinato. Editora
Vozes.
Para entender e Celebrar a Liturgia. Felipe Aquino.
Editora Cléofas.
Evite Erros na Celebração Litúrgica. Edes Andrade
Pereira. Editora Partilha
CNBB. Animação da vida Litúrgica no Brasil. Doc. 43.
Edições Paulinas.
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