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Por Adhemir Marthins

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sexta-feira, 31 de julho de 2015

MISSA PARTE POR PARTE (4)

Liturgia Eucarística ou Rito Sacramental

Na Liturgia Eucarística atingimos o ponto alto da celebração. Durante ela a Igreja irá tornar presente o Sacrifício que Cristo fez para nossa Salvação. Não se trata de outro sacrifício, mas sim de trazer à nossa realidade a Salvação que Deus nos deu. Durante esta parte a Igreja eleva ao Pai, por Cristo, sua oferta e Cristo dá-se como oferta por nós ao Pai, trazendo-nos graças e bênçãos para nossas vidas.

É durante a Liturgia Eucarística que podemos entender a Missa como uma Ceia, pois afinal de contas nela podemos enxergar todos os elementos que compõem uma: temos a mesa – mais propriamente a mesa da Palavra e a mesa do Pão. Temos o Pão e o Vinho, ou seja, o alimento sólido e líquido presentes em qualquer ceia. Tudo conforme o espírito da Ceia Pascal judaica, em que Cristo instituiu a Eucaristia.

E de fato, a Eucaristia no início da Igreja era celebrada em uma Ceia Fraterna. Porém foram ocorrendo alguns abusos, como Paulo os sinaliza na Primeira Carta aos Coríntios. Aos poucos foi sendo inserida a celebração da Palavra de Deus antes da Ceia Fraterna e da Consagração. Já no século II a Liturgia da Missa apresentava o esquema que possui hoje em dia.

Após essa lembrança de que a Missa também é uma Ceia, podemos nos questionar sobre o sentido de uma ceia, desde o cafezinho oferecido ao visitante até o mais requintado jantar diplomático. Uma ceia significa, entre outros: festa, encontro, união, amor, comunhão, comemoração, homenagem, amizade, presença, confraternização, diálogo, ou seja, vida. Aplicando esses aspectos a Missa, entenderemos o seu significado, principalmente quando vemos que é o próprio Deus que se dá em alimento. Vemos que a Missa também é um convívio no Senhor.

A Liturgia Eucarística divide-se em: Apresentação das Oferendas, Oração Eucarística e Rito da Comunhão.

1. Apresentação das Oferendas

Apesar de conhecida como ofertório, esta parte da Missa é apenas uma apresentação dos dons que serão ofertados junto com o Cristo durante a Consagração. Devido ao fato de maioria das Missas essa parte ser cantada não podemos ver o que acontece durante esse momento. Conhecendo esses aspectos poderemos dar mais sentido à celebração.

Analisemos inicialmente os elementos do Ofertório: o pão, o vinho e a água. O que significam? De fato foram os elementos utilizados por Cristo na Última Ceia, mas eles possuem todo um significado especial:

1) o pão e o vinho representam a vida do homem, o que ele é, uma vez que ninguém vive sem comer nem beber;
2) representam também o que o homem faz, pois ninguém vai à roça colher pão nem na fonte buscar vinho;
3) em Cristo o pão e o vinho adquirem um novo significado, tornando-se o Corpo e o Sangue de Cristo. Como podemos ver, o que o homem é, e o que o homem faz adquirem um novo sentido em Jesus Cristo.

E a água? Durante a apresentação das oferendas, o sacerdote mergulha algumas gotas de água no vinho. E o porquê disso? Sabemos que no tempo de Jesus os judeus bebiam vinho diluído em um pouco de água, e certamente Cristo também devia fazê-lo, pois era verdadeiramente homem. Por outro lado, a água quando misturada ao vinho adquire a cor e o sabor deste. Ora, as gotas de água representam a humanidade que se transforma quando diluída em Cristo. 

Para entender melhor ainda o significado de cada símbolo na Missa convido-o a ler o texto OS SÍMBOLOS NA MISSA neste Blog. 

Os tempos da preparação das oferendas:

a) Preparação do altar

“Em primeiro lugar prepara-se o Altar ou a Mesa do Senhor, que é o centro de toda Liturgia Eucarística, colocando-se nele o corporal, o purificatório, o cálice e o missal, a não ser que se prepare na credência”(IGMR 49).

b) Procissão das oferendas

Neste momento, trazem-se os dons em forma de procissão. Lembrando que o pão e o vinho representam o que é o homem e o que ele faz, esta procissão deve revestir-se do sentimento de doação, ao invés de ser apenas uma entrega da água e do vinho ao sacerdote. Portanto a procissão das oferendas quer significar a nossa oferta a Deus de tudo aquilo que temos e somos. Lembrando que o canto deve acompanhar a procissão, como também, a apresentação das oferendas. Ele encerra quando acaba a apresentação, portanto, não deve ficar prolongando desnecessariamente.

c) Apresentação das oferendas a Deus

O sacerdote apresenta a Deus as oferendas através da fórmula: Bendito sejais… e o povo aclama: Bendito seja Deus para sempre! Este momento passa despercebido da maioria das pessoas devido ao canto do ofertório. O ideal seria que todo o povo participasse desse momento, sendo o canto usado apenas durante a procissão e a coleta fosse feita sem as pessoas saírem de seus locais. O canto não é proibido, mas deve procurar durar exatamente o tempo da apresentação das oferendas, para que o sacerdote não fique esperando para dar prosseguimento à celebração. Como já dito acima.

d) A Coleta do Ofertório

Já nas sinagogas hebraicas, após a celebração da Palavra de Deus, as pessoas costumavam deixar alguma oferta para auxiliar as pessoas pobres. E de fato, este momento do ofertório só tem sentido se reflete nossa atitude interior de dispormos os nossos dons em favor do próximo. Aqui, o que importa não é a quantidade, mas sim o nosso desejo de assim como Cristo, nos darmos pelo próximo. Representa o nosso desejo de aos poucos, deixarmos de celebrar a Eucaristia para nos tornarmos Eucaristia. Ser Igreja é ser partilha na vida das pessoas.

e) O Lavar as Mãos

Após o sacerdote apresentar as oferendas ele lava suas mãos. Antigamente, quando as pessoas traziam os elementos da celebração de suas casas, este gesto tinha caráter utilitário, pois após pegar os produtos do campo era necessário que lavasse as mãos. Hoje em dia este gesto representa a atitude, por parte do Sacerdote, de tornar-se puro para celebrar dignamente a Eucaristia.

f) O Orai Irmãos…

Agora o sacerdote convida toda assembleia a unir suas orações à Ação de Graças do sacerdote.

g) Oração sobre as Oferendas

Esta oração coleta os motivos da Ação de Graças e lança no que segue, ou seja, a Oração Eucarística. Sempre muito rica, deve ser acompanhada com muita atenção e confirmada com o nosso Amém!

2. A Oração Eucarística

É na Oração Eucarística em que atingimos o ponto alto da celebração. Nela, através de Cristo que se dá por nós, mergulhamos no mistério da Santíssima Trindade, mistério da nossa salvação.

“A Oração Eucarística é o centro e ápice de toda celebração, é prece de ação de graças e santificação. O sacerdote convida o povo a elevar os corações ao Senhor na oração e na ação de graças e o associa à prece que dirige a Deus Pai por Jesus Cristo em nome de toda comunidade. O sentido desta oração é que toda a assembleia se una com Cristo na proclamação das maravilhas de Deus e na oblação do Sacrifício” (IGMR 54).

a) Prefácio

Após o diálogo introdutório, o Prefácio possui a função de introduzir a assembléia na grande Ação de Graças que se dá a partir deste ponto. Existem inúmeros prefácios, abordando sobre os mais diversos temas: a vida dos santos, Nossa Senhora, Páscoa etc.

b) O Santo

É a primeira grande aclamação da assembléia a Deus Pai em Jesus Cristo. O correto é que seja sempre cantado, levando-se em conta a maior fidelidade possível à letra da oração original. É um dos cantos mais belos da Missa, por isso deve ser vibrante por sua natureza. Tem que ter caráter bíblico e que expresse de fato o Santo. É uma aclamação, uma fórmula de louvor tirada do livro do profeta Isaías (Is 6,3). É uma síntese do hino dos Querubins. Leia em sua Bíblia os textos: Is 6,1-3; Mt 21,9 e Ap 4,8.

O Canto do Santo significa:

é alegria da Ressurreição do Cordeiro de Deus.
é o louvor de toda a criação ao Senhor.
é vitória do bem sobre as crueldades do mundo.
é espera de transformação da nossa realidade e das pessoas.
é a santidade de Deus e a Glória que o céu e a terra proclamam diante da obra da Criação.

c) A invocação do Espírito Santo

Através dele Cristo realizou sua ação quando presente na história e a realiza nos tempos atuais. A Igreja nasce do Espírito Santo, que transforma o Pão e o Vinho. A Igreja tem sua força na Eucaristia. 

d) A Consagração

Deve ser toda acompanhada por nós. É reprovável o hábito de permanecer-se de cabeça baixa durante esse momento. Reprovável ainda é qualquer tipo de manifestação quando o sacerdote ergue a hóstia, pois este é um momento sublime e de profunda adoração. Nesse momento o mistério do amor do Pai é renovado em nós. Cristo dá-se por nós ao Pai trazendo graças para nossos corações. Daí ser esse um momento de profundo silêncio.

e) Preces e intercessões

Reconhecendo a ação de Cristo pelo Espírito Santo em nós, a Igreja pede a graça de abrir-se a ela, tornando-se uma só unidade. Pede para que o papa e seus auxiliares sejam capazes de levar o Espírito Santo a todos (Igreja dos vivos... Militante). Pede pelos fiéis que já se foram (Igreja dos mortos... Padecente) e pede a graça de, a exemplo de Nossa Senhora e dos santos, os fiéis possam chegar ao Reino para todos preparados pelo Pai (Igreja Celeste... Triunfante).

f) Doxologia Final (Do grego Doxa = Glória)

É uma espécie de resumo de toda a oração eucarística, em que o sacerdote tendo o Corpo e Sangue de Cristo em suas mãos louva ao Pai e toda assembléia responde com um grande “Amém”, que confirma tudo aquilo que ela viveu. O sacerdote a diz sozinho. Pode ser cantada ou não pelo presidente da celebração.

3. Rito da Comunhão

A Oração Eucarística representa a dimensão vertical da Missa, em que nos unimos plenamente a Deus em Cristo. Após alcançarmos a comunhão com Deus Pai, o desencadeamento natural dos fatos é o encontro com os irmãos, uma vez que Cristo é único e é tudo em todos. Este é o momento horizontal da Missa. Tem também esse momento o intuito de preparar-nos ao Banquete Eucarístico.

a) O Pai Nosso

É o desfecho natural da Oração Eucarística. Uma vez que unidos a Cristo e por ele reconciliados com Deus, nada mais oportuno do que dizer: Pai nosso… Esta oração deve ser rezada em grande exaltação, se for cantada, deve seguir exatamente as palavras ditas por Cristo, quando as ensinou aos discípulos. Após o Pai Nosso segue o seu embolismo, ou seja, a continuação do último pensamento da oração. Segue aqui uma observação: o único local em que não dizemos “amém” ao final do Pai Nosso é na Missa, dada a continuidade da oração expressa no embolismo.

Lembrando que assim como toda oração cantada na litúrgica, como vimos até agora, deve ser executada fielmente a letra, músicas de Pai Nosso como o do Padre Marcelo Rossi não é conveniente, ainda mais que foge da oração que o próprio Cristo nos ensinou.

b) Oração pela Paz

Uma vez reconciliados em Cristo, pedimos que a paz se estenda a todas as pessoas, presentes ou não, para que possam viver em plenitude o mistério de Cristo. Pede-se também a Paz para a Igreja, para que, desse modo, possa continuar sua missão. Esta oração é rezada somente pelo sacerdote.

c) O cumprimento da Paz

É um gesto simbólico, uma saudação pascal.  Por ser um gesto simbólico não há a necessidade em sair do local para cumprimentar a todos na Igreja. Se todos tivessem em mente o simbolismo expresso nesse momento não seria necessária a dispersão que o caracteriza na maioria dos casos. Também não é permitido que se cante durante esse momento, uma vez que deveria durar pouco tempo. A Santa Sé por meio da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos publicou por ordem do Santo Padre Francisco um novo documento. Neste documento a Santa Sé ordena que acabem com os abusos no momento da Paz, o popular "abraço da paz". (Ver: CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO E A DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS. CARTA CIRCULAR: O SIGNIFICADO RITUAL DO DOM DA PAZ NA MISSA).

- Nada de sair do lugar para dar a paz, mas dar-se-á apenas para as pessoas que estão mais próximas.
- Nada de músicas, pois isso além de não estar previsto, aumenta bastante um momento que não deve ser longo.
- Nada de o celebrante sair do presbitério para dar a paz a outras pessoas.

Lembrando que este gesto é facultativo e móvel, podendo ser realizado em outros momentos da celebração. O fato é que devemos ter muito cuidado para que este momento não sufoque, diminua ou ignore o que vem a seguir, ou seja, a invocação do Cordeiro de Deus, que tem a preferência, durante o rito da fração do pão. Muitas vezes quando a assembléia se acalma do abraço da paz, o Rito do Cordeiro de Deus já passou despercebido, essa prática consiste num erro litúrgico gravíssimo.

d) O Cordeiro de Deus (Agnus Dei)

O sacerdote e a assembléia se preparam em silêncio para a comunhão. Neste momento o padre mergulha um pedaço do pão no vinho, representando a união de Cristo presente por inteiro nas duas espécies. A tríplice invocação derivada da palavra de João Batista, Jo 1,29; Ao 5,6; 13,8, que a assembléia canta ou reza na Fração do Pão. A seguir todos reconhecem sua pequenez diante de Cristo e como o Centurião exclamam: Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma só palavra e serei salvo. Cristo não nos dá apenas sua palavra, mas dá-se por amor a cada um de nós.

Cristo é o Cordeiro de Deus que deu sua vida para trazer até nós a salvação. Cordeiro imolado, cordeiro sinal de libertação.

É uma parte fixa da Missa que nunca deve ser substituída ou omitida. Deve ser sempre cantada, mas não se impede que seja rezada.

e) A Comunhão ( Fração do Pão) 

Durante esse momento a assembléia dirige-se à mesa Eucarística. O canto deve procurar ser um canto de louvor moderado, salientando a doação de Cristo por nós. A comunhão pode ser recebida nas mãos ou na boca, tendo o cuidado de, no primeiro caso, a mão que recebe a hóstia não ser a mesma que a leva a boca. Aqueles que por um motivo ou outro não comungam, por não se encontrarem devidamente preparados (estado de graça santificante) é importante que façam desse momento também um momento de encontro com o Cristo, no que chamamos de Comunhão Espiritual. Após a comunhão segue-se a Ação de Graças, que pode ser feita em forma de um canto ou pelo silêncio, que dentro da liturgia possui sua linguagem importantíssima. O que não pode é esse momento ser esquecido ou utilizado para conversar com quem está ao nosso lado.

Quem distribui a Sagrada Comunhão aos fiéis?

·         O Presidente da Celebração.
·         Padres concelebrantes se houver.
·         O Diácono.
·         O Acólito Instituído.
·         Os Ministros Extraordinários da Comunhão Eucarística.

f) Oração após a Comunhão

Infelizmente criou-se o mau costume em nossas assembleias de se fazer essa oração após os avisos, como uma espécie de convite apressado para se ir embora. Esta oração liga-se ainda a Liturgia Eucarística, e é o seu fechamento, pedindo a Deus as graças necessárias para se viver no dia-a-dia tudo que se manifestou perante a assembleia durante a celebração. Os avisos fazem parte dos Ritos Finais.

Aqui então termina a Liturgia Eucarística.

REFERÊNCIAS

Missa Parte por Parte. Padre Luiz Cechinato. Editora Vozes.
Para entender e Celebrar a Liturgia. Felipe Aquino. Editora Cléofas.
Evite Erros na Celebração Litúrgica. Edes Andrade Pereira. Editora Partilha
CNBB. Animação da vida Litúrgica no Brasil. Doc. 43. Edições Paulinas.

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