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Por Adhemir Marthins

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sexta-feira, 19 de agosto de 2016

GRANDES PERÍODOS DA VIDA DE FRANCISCO DE ASSIS

GRANDES PERÍODOS DA VIDA DE FRANCISCO DE ASSIS
Por Frei Almir Guimarães
Temos o costume de consultar textos que fazem a cronologia da vida de São Francisco. Muitos livros sobre o Poverello apresentam fatos e acontecimentos ano após ano, desde o nascimento até a morte. Cesare Vaiani, OFM (Storia e teologia dell’esperienza spirituale di Francesco d’Assisi, Edizioni Biblioteca Francescana, Milano) em obra erudita faz a mesma cronologia, mas regrupada em grandes períodos. No fundo ajunta fatos e feitos em nítidos “capítulos” da história do Poverello, fases de sua vida. Apresentamos o trabalho em duas vezes.

1. Juventude ( 1181-1205) – Francisco cresce no meio da juventude de Assis. Estes são os anos da formação de seu caráter: pessoa alegre, brilhante, gosta de participar de festas com seus amigos. Exerce uma profissão: trabalha com o pai Pietro Bernardone, na loja de tecidos. Tendo viajado à França, aprende a língua francesa. Nos momentos de alegria servir-se-á deste idioma para exprimir sua alegria. Aprende a ler e escrever o latim. Participa do ambiente político e militar vivido por Assis. Toma parte numa batalha, é feito prisioneiro e, por fim, cai enfermo. Este período pode ser considerado como uma unidade. Dele possuímos informações genéricas. Nesse tempo, o jovem Francisco ainda não havia encontrado sua identidade.

2. A conversão (1205-1208) – Nesse período de sua “conversão”, Francisco muda de vida e se torna penitente. Os episódios deste período são, de modo particular, aqueles ele mesmo menciona em seu Testamento: o encontro com o leproso, a oração nas igrejas e o encontro com o Crucifixo de São Damião. Tudo indica que neste período Francisco está sozinho em sua busca.

3. A primeira fraternidade (1208-1216) – A Francisco se unem irmãos de diferentes estratos sociais. O crescimento interior de Francisco se fez em função da experiência positiva e criativa da fraternidade. O período é constituído pelos “anos mágicos” das origens da experiência fraterna. Francisco e seus primeiros companheiros nunca se esquecerão desse tempo. O período em questão pode ser caracterizado pela chegada dos irmãos que dão nascimento e vida à Fraternitas. Os irmãos que foram chegando constituíam, no dizer de Francisco, um dom do Senhor, presente inesperado. Trata-se de um elemento fundamental para que possa elaborar o projeto de vida. Este vai sendo delineado aos poucos. Os momentos importantes do surgimento da Fraternitas são os capítulos, reuniões de todos os irmãos que tinham lugar uma vez ao ano. Neste período não sai da cabeça de Francisco o ideal do martírio. No final dos anos aqui mencionados começam a surgir os primeiros problemas com o vertiginoso crescimento do grupo.

4. Expansão da Fraternitas e primeiras dificuldades (1217-1219) – A Fraternitas já se apresenta numerosa. Foi se transformando com a chegada dos irmãos “letrados” nos anos 1215/1216. Por ocasião do Capítulo de 1217, a Fraternitas passa a ter uma nova organização com a instituição dos “ministros provinciais” e com a estruturação em “províncias”. Começa a expansão além dos Alpes com uma primeira expedição mal constituída ou formada e a presença ultramarina melhor sucedida. Francisco encontra-se com Cardeal Hugolino que começa a intervir na Fraternitas, que aos poucos vai constituir-se em Religio/Ordo. Nesse período, registra-se a primeira intervenção oficial do Papa (Bula Cum dilecti, 11 de junho de 1218) que pode significar o surgimento de alguns problemas na Fraternitas/Religio. Se não houvesse problemas, tal Bula não teria sido escrita. Este período distingue-se do precedente pelo surgimento dos primeiros sinais de organização, pela expansão numérica e qualitativa e pelas primeiras intervenções da autoridade romana.

5. Oriente (verão de 1219-verão de 1920) - Francisco está no Egito, no acampamento dos cruzados. Depois do Capítulo de 26 de maio de 1219, no final do qual se decidiu o envio de irmãos para além dos Alpes, Francisco, por sua vez, parte para o Oriente. Entre as razões para esta viagem pode-se supor a permanência do desejo do martírio, a vontade de pôr em prática determinações do Capítulo que queria enviar os frades em missão, fora da Itália. Poder-se-ia se questionar também se não se tratava de uma fuga dos crescentes problemas assinalados no período anterior. A permanência no Oriente, ocasião em que Francisco contrai uma dolorosa enfermidade das vistas, parece ter sido uma experiência de grande importância em seu percurso e se apresenta como divisor de águas em seu caminho. Aproxima-se ele de um mundo distinto da christianitas onde sempre vivera, mundo fortemente religioso no contexto islâmico. Trata-se de uma experiência de caráter internacional, de modo especial no acampamento dos cruzados onde haviam pessoas de diferentes nacionalidades.
6. Retorno e pedido de demissão (setembro 1220) - Tendo sido chamado por alguns frades, ele mesmo muito preocupado com os problemas da Ordem, Francisco volta à Itália no verão de 1220. Obtém do Papa a determinação de que o Cardeal Hugolino venha a ser o protetor da Ordem e no Capítulo de São Miguel (29 de setembro de 1220) apresenta sua demissão.
 
Não estamos diante de um período, mas de um fato preciso e datado. A razão se explica pela mudança ou transformação que se verifica no relacionamento de Francisco com a fraternidade. Não se pode esquecer o peso “institucional”. Juridicamente, Francisco continua sendo referência para a Cúria Romana, como se verifica pelo fato de que ele elabora a Regra e busca sua aprovação. A demissão é vivida pessoalmente por ele como afastamento do governo da Ordem. Mostram-no suas inequívocas afirmações em Escritos datados desta época.

7. Anos de provação e de apostolado (1220-1224) - Aparecem dois elementos aparentemente contraditórios: de um lado uma atividade evangelizadora intensa, documentada em suas cartas circulares e, de outro lado um certo isolamento da Ordem como consequência de sua demissão. Fala-se de uma “crise” de Francisco. Algumas fontes assinalam-na como gravíssima tentação do espírito, que teria durado dois anos e o afastado dos irmãos. Embora aparentemente contraditórios os dois elementos caminhavam paralelamente. Repetimos: Francisco, depois de 1221 dedica-se ao trabalho de reelaboração da Regra que desembocará na Regra bulada de 1223, contando com a assistência do Cardeal Hugolino e provavelmente de alguns frades. Nesse labor, Francisco é contrariado pelo grupo dirigente da Ordem. Manifestam-se sintomas do avanço de enfermidades (fígado e estômago, além da doença das vistas). No período em questão emerge um Francisco que sofre no corpo e na alma. No final desse período situa-se o episódio de Greccio, a celebração do Natal (1223).

8. Os estigmas (setembro de 1224, no alto do Monte Alverne) - Aqui não se trata de um período, mas de fato singular. No âmbito de toda a trajetória de Francisco a estigmatização deixa marca profunda. Segundo Cesare Vaiani não se pode deixar de colocar o fato nessa “periodização” da vida de Francisco. O estigmas não constituem o centro da vida e da experiência de Francisco para o qual convergiria, como parecem crer alguns de seus biógrafos. O episódio coloca-se na esteira de todo um labor espiritual do Poverello e, quem sabe, se poderia dizer que os estigmas seriam uma resposta de Deus ao que Francisco estava vivendo. Depois do Alverne ele conhecerá a paz da cruz.

9. Os dois últimos anos (1224-1226) – Francisco vive cercado de alguns poucos companheiros que dele cuidam, protegem e, de certo modo, isolam-no da Ordem. Durante a estadia de cinquenta dias em São Damião, na primavera de 1225, dita o Cântico do Irmão Sol. Tem vontade de se ocupar novamente dos leprosos, como no começo, realiza um giro de pregações. O Testamento prova que mesmo demissionário não deixou de cuidar dos irmãos. No atual período, Francisco está muito doente e um pouco isolado.

10. A morte (3 de outubro de 1226) – Nas primeiras vésperas do domingo 4 de outubro, Francisco morre na Porciúncula, deitado na terra nua.

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