Ontem
começamos um debate com os adolescentes da Crisma e que se estenderá na
Catequese com os Adultos sobre o filme DEUS NÃO ESTÁ MORTO, uma produção
protestante que fez relativo sucesso nos Estados Unidos e que tem suscitado
debates calorosos.
A
FÉ na existência de Deus. Esta é a temática do filme, onde o jovem Josh Wheaton (Shane
Harper) entra na universidade, e conhece um arrogante professor de Filosofia Jeffrey
Radisson (Kevin Sorbo) que não acredita em Deus. Um professor que está mais
para alguém revoltado com Deus do que um ateu propriamente dito. O aluno
reafirma sua fé, e é desafiado pelo professor a comprovar a existência de Deus
diante da classe. Começa uma batalha entre os dois homens, que estão dispostos
a tudo para justificar o seu ponto de vista, até se afastar das pessoas mais
importantes para eles.
Antes, porém de começarmos a reflexão sobre as
possibilidades positivas e negativas do filme, fiz questão, de preparar o
terreno para o debate fazendo análise do pensamento filosófico do final do
século XVIII e XIX. Sem isso, penso, a discussão ficaria manca. Primeiro
precisaríamos entender o porquê do título do filme: DEUS NÃO ESTÁ MORTO.
Sem adentrarmos nos pretextos, contextos e textos e
em muitas das diversas falácias filosóficas, mesmo que pontuando algumas (Marx,
Freud, Sartre, Camus, Monod) e com um dos mais famosos representantes da frase em
questão do filósofo alemão Friedich Nietzsche que, categoricamente, afirmou em
seus livros “A Gaia Ciência” e principalmente em “Assim falou Zaratustra”, que
“Deus está Morto”, passamos então a analisar o filme sob a luz da Fé Católica.
O que não podíamos esquecer era o ponto de partida,
a de que a Reforma Protestante, influenciada pelo Renascimento, deu início ao
liberalismo e ao relativismo religioso que hoje assola o mundo e a igreja. Como
estamos imersos em um discurso que desconstrói a dignidade humana em seus
vários contextos, achei interessante situá-los quanto a isso. Se em algum momento da história os
reformadores disseram “não” a Igreja, (Os reformistas do Século XVI) outros
viriam para validar este não, mas abrindo possibilidades de também dizer “não”
a Deus (os ateus do século XIX) hoje, inseridos num mundo Pós Moderno amparados
por um relativismo permissivo, estamos dizendo “não” ao próprio homem. Subjetivamente
estamos construindo velozmente uma sociedade sem sentido, ancorada em seus
vários discursos, onde a verdade é relativa e que tem nos levado à areia
movediça de uma crise de valores.
O filme tem lá suas deficiências, mas apresenta uma
boa possibilidade de discussão. DEUS NÃO ESTÁ MORTO tem um enredo interessantíssimo
e muito atual. A perseguição ao cristianismo já adentrou os espaços culturais
há um bom tempo e é constatada, especialmente, dentro das escolas e universidades.
Quem diria que a Igreja Católica e o cristianismo, os verdadeiros responsáveis
pela criação de algumas das principais bases da civilização ocidental, fossem
tão perseguidos e difamados dentro dos próprios espaços da Academia. Milhares
de jovens acadêmicos cristãos relatam, constantemente, o desprezo e até o
isolamento que vivem pelo simples fato de professarem e defenderem sua Fé,
fruto de uma injustiça histórica e também anacrônica que condena o cristianismo
como religião obscurantista e alheia ao uso da Razão. Neste sentido, é sempre
bom recordar as sábias e santas palavras de São João Paulo II, na Encíclica
Fides et Ratio: “A Fé e a Razão constituem como que as duas asas pelas
quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Foi Deus quem
colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade e, em última
análise, de conhecer a Ele, para que, conhecendo-o e amando-o, possa chegar
também à verdade plena sobre si próprio.”
O filme em si nos remete a um debate filosófico
sobre a FÉ em algo atemporal, mas o que é a FÉ, o que é a Razão? Esta é a
questão. O filme possibilita então uma abertura e nos impele a pensarmos sobre
a nossa condição de homens e mulheres livres. O ser humano é livre por natureza
e todas as suas escolhas, são opções de sua inteira responsabilidade, ainda
que, por vezes, não consiga ou não queira enxergar as consequências que
decorrem da liberdade dada por Deus. Muitas vezes, somos acometidos,
atormentados e nos permitimos sofrer diversas dores e outras coisas, reclamamos
que “Deus nos abandou”, que Ele não ouve as nossas orações, que não é capaz de
se compadecer de nós e das nossas dificuldades… E começamos a cambalear na Fé.
Alguns até chegam ao ponto de afirmarem que “perderam-na”. Ora, em se tratando
de Fé, como já dizia Santo Agostinho, em uma de suas cartas, “não há como
perder o que nunca teve. Quem afirma que a perdeu é porque, certamente, nunca a
encontrou verdadeiramente”. Portanto, a Fé é um exercício permanente de CRER e
CONFIAR em algo que não podemos ver. A FÉ não é SENTIR. A FÉ também não é
acreditarmos em algo que não existe. A Fé é justamente apontarmos para uma
segurança em algo ou alguém neste universo que não podemos ver. Se pudéssemos
vê-lo já não seria Fé. Seria interessante aqui uma leitura das quatro causas fundamentais
para a existência das coisas pensadas por Aristóteles ( A Causa Material, A
Causa Formal, A Causa Eficiente e a Causa Final), e também uma leitura, mesmo
que mínima das cinco teorias ou cinco teses em que Santo Tomás de Aquino procura
provar racionalmente a existência de Deus.
De qualquer forma, ao final do debate é perceptível
nos adolescentes uma análise do filme, ainda que de alguns poucos de forma
superficial. Todos assistiram ao filme, mas com certeza da forma como estamos
acostumados e adestrados, ou seja, como entretenimento. Seria interessante que depois do bate papo o
filme fosse revisto e agora com uma introdução, um aporte histórico e
filosófico construíssem a partir dele uma reflexão própria. É preciso pensar,
refletir, sobre os pontos propostos. Às vezes pensar dói, mas é necessário. Nossos
adolescentes e jovens infelizmente no contexto da Pós Modernidade não é
motivada a pensar e muitas vezes não querem fazer isso. Tudo está pronto e de
forma volúvel, passageira, líquida. Não é necessário nenhum investimento. O
Discurso da Pós Modernidade é este... Apenas este.
Ao final, disse a eles para que pensem por si
mesmos, mas ancorados em valores sólidos. Que não se deixem serem sequestrados em
suas identidades, e que continuem exercitando a sua Fé em Jesus Cristo, a única
VERDADE possível, a única possibilidade para escaparmos do Caos que o próprio
homem vem ao longo da história construindo. Portanto, como nos diz a Sagrada
Escritura, o Manual de Instrução com o qual viemos para este mundo, Jesus Cristo é o
único CAMINHO, a única VERDADE e a única VIDA.
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