A revista VEJA (n.2433 de 8/7/2015) publicou uma
entrevista com o astrofísico americano Neil Degrasse Tyson, divulgador da
ciência como Carl Sagan, com o título “A busca pela origem de tudo”.
Lamentavelmente o cientista abandona o campo da pura ciência para opinar no
campo da teologia, que ele nada entende, e age, então, como incoerente. Entre
outras citações, querendo negar a existência de Deus, ele afirma que se Deus
existe, então, temos de aceitar que Ele “Deixa pessoas inocentes serem
atropeladas na rua… permite que uma criança morra de leucemia… Ou ainda faz
vistas grossas diante de furações e vulcões que matam milhares. Se Deus está
por trás de tudo, é muito bom em matanças…” (p. 18).
É triste ver um cientista que nada entende do
pecado original e de teologia, opinando sem qualquer base sobre Deus e sua ação
no mundo. Ora, a teologia é uma ciência, e requer capacitação nela para se
tirar conclusões sobre Deus. Este cientista age como se eu, físico e
matemático, quisesse opinar sobre neurociências ou obstetrícia. Eu seria um
irresponsável. Se alguém quiser prescrever receitas médicas sem ser médico,
será chamado de charlatão; e quem dá receitas sobre Deus e suas ações sem ter
estudado teologia?
Alguém contou uma história interessante que
aconteceu na Inglaterra: Um indivíduo descabelado sujo pôs-se de pé, no meio de
um curioso grupo de pessoas que escutavam um pregador no Hyde Park de Londres.
Dirigiu-se ao orador e fez-lhe uma pergunta que era um grito de indignação: “O
senhor diz que Deus veio ao mundo faz dois mil anos… Como é possível então que
o mundo continue cheio de ladrões, adúlteros e assassinos?”.
Fez-se um silêncio muito grande. Todos os que
estavam presentes acharam que era uma objeção para a qual não havia resposta.
Mas o pregador olhou-o serenamente e respondeu: “Tem toda a razão. Mas a água
também existe há milhões de anos, e, no entanto…, repare como você está sujo!”
Assim como aquele homem podia servir-se ou não da
água, nós, os homens, temos a possibilidade de usar bem ou mal da nossa
liberdade; inteligência, vontade, etc.. Mas quem é responsável por essa decisão
somos nós, não Deus. Deus confiou no homem, aceitou correr o risco de nos fazer
livres, para sermos grandes, sua imagem e semelhança, e permitiu até que o
homem pudesse usar mal dessa liberdade para se opor a Ele, como também fizeram
muitos anjos.
Deus nos deu inteligência para discernir o bem do
mal; colocou em nós a Consciência, a Sua voz que nos diz: “faça o bem, evite o
mal”, como uma lei natural que independe de religião, crença ou nação. Deu-nos
a memória para guardar o que é bom e o que é mal, e a vontade para fazer o bem
e não o mal. Além de tudo Ele mostra-nos a sua bondade espelhada em todas as
criaturas, especialmente em nós. Basta olharmos para dentro de nós e para fora,
que veremos a bondade, o amor, a grandeza, o poder e a delicadeza de Deus.
Como a Igreja explica o mistério da “aparente
impotência de Deus”? Por vezes, Deus pode parecer ausente e incapaz de impedir
o mal. O sofrimento está ligado às limitações próprias das criaturas e,
sobretudo, à questão do mal moral, o pecado. “O salário do pecado é a morte”
(Rom 6,23).
Santo Agostinho perguntava: “De onde vem o mal?”.
“Eu perguntava de onde vem o mal e não encontrava saída”, em sua própria busca
sofrida não encontrara saída, a não ser em sua conversão ao Deus vivo. Pois “o
mistério da iniquidade” (2 Ts 2,7) só se explica à luz do “Mistério da
piedade”. É a revelação do amor divino em Cristo que nos mostra a extensão do
mal e a superabundância da graça. Precisamos, pois, abordar a questão da origem
do mal fixando o olhar de nossa fé Naquele que, e só Ele, é o Vencedor do mal,
ensina a Igreja.
Esta é a pergunta que fazem os ateus: “Se Deus é
Todo-Poderoso, Criador do mundo ordenado e bom, cuida de todas as suas
criaturas, por que então o mal existe?”
Para esta pergunta misteriosa, não há uma
resposta rápida. É o conjunto da fé cristã que constitui a resposta a esta
pergunta. Diz o nosso Catecismo que: “Não há nenhum elemento da mensagem cristã
que não seja, por uma parte, uma resposta à questão do mal.” (§309)
Alguém ainda pode perguntar: “Mas por que Deus
não criou um mundo tão perfeito que nele não possa existir mal algum?”
São Tomás de Aquino responde que, segundo seu
poder infinito, Deus sempre poderia criar algo melhor. “Todavia, em sua
sabedoria e bondade infinitas, Deus quis livremente criar um mundo “em estado
de caminhada” para sua perfeição última. Juntamente com o bem físico existe o
mal físico, enquanto a criação não houver atingido sua perfeição”. (cf. CIC,
§310)
Deus criou os anjos e os homens, inteligentes e
livres, que devem caminhar para seu destino último livremente e por amor ao
Criador. Mas podem se desviar. E, de fato, pecaram. Foi assim que o mal moral
entrou no mundo, muito mais grave do que o mal físico. Deus não é de modo algum
a causa do mal moral. Deus permite isso respeitando a liberdade de sua
criatura, mas sabe, misteriosamente, do mal tirar o bem. Santo Agostinho disse
que “Deus Todo-Poderoso…, por ser soberanamente bom, nunca deixaria qualquer
mal existir em suas obras se não fosse bastante poderoso e bom para fazer
resultar o bem do próprio mal” (Enchiridion 3,11).
Com o passar do tempo, Deus, em sua providência
todo-poderosa, pode tirar um bem das consequências de um mal, mesmo moral,
causado por suas criaturas, como, por exemplo, no caso de José do Egito. Ele
foi vendido por seus irmãos, por inveja; mas Deus fez dele o governador do Egito
que, mais tarde salvou o seu povo da fome.
“Não fostes vós, diz José a seus irmãos, que me
enviastes para cá, foi Deus; – o mal que tínheis a intenção de fazer-me, o
desígnio de Deus o mudou em bem a fim de – salvar a vida de um povo numeroso”
(Gn 45,8; 50,20).
Do maior mal cometido pela humanidade, a rejeição
e homicídio do Filho de Deus, por causa de nossos pecados, Deus, tirou o maior
dos bens: a glorificação de Cristo e a nossa Redenção. Mas, nem por isso o mal
não se converte em um bem.
FONTE: Ciência e Fé em Harmonia. Felipe Aquino. Editora Cléofas.
Jesus Cristo é Deus? José Antonio de Laburu SJ. Edições Loyola.
Não vos conformeis com este Mundo. Felipe Aquino. Editora Cléofas.
Catecismo da Igreja Católica. Edição Típica Vaticana. Edições Loyola.
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